domingo, 17 de novembro de 2013

"A vida verdadeira do ser humano é o caminho no qual ele se desfaz das mentiras que lhe foram impostas pelos outros. Desprovido das roupas, nu, ao natural, ele é aquilo que é. Trata-se aqui de ser e não de vir a ser. 

A mentira não pode transformar-se na verdade, a personalidade não pode transformar-se na sua alma. Não existe maneira de transformar o não-essencial em essencial. O não-essencial permanece não-essencial e o essencial permanece essencial -- eles não são conversíveis. Esforçar-se pela verdade só vai criar mais confusão. A verdade não precisa ser conquistada. Ela não pode ser conquistada, pois já está aí. Apenas a mentira é que precisa ser descartada.

TODOS OS ANSEIOS, PROPÓSITOS, IDEAIS E METAS, TODAS AS IDEOLOGIAS, RELIGIÕES E SISTEMAS DE APERFEIÇOAMENTO, DE MELHORAMENTO, SÃO MENTIRAS.

Cuidado com tudo isso. Reconheça o fato de que do jeito como você é agora, você é uma mentira, resultado de manipulação, produzido pelos outros. A busca da verdade é de fato uma distração e um adiamento. É a fórmula encontrada pela mentira para disfarçar-se. Olhe a mentira de frente, examine a fundo a falsidade que é a sua personalidade. Pois encarar a mentira é parar de mentir. Deixar de mentir é desistir de buscar alguma verdade -- não há necessidade disso. No momento em que a mentira desaparece, ali está a verdade em toda a sua beleza e esplendor. Encarando-se a mentira ela desaparece e o que fica é a verdade."

Osho This Very Body The Buddha Chapter 6

sábado, 16 de novembro de 2013

RUÍNA

RUÍNA
por manoel de BARROS

Um monge descabelado me disse no caminho: eu queria construir uma ruína. Embora eu saiba que ruína é uma desconstrução. Minha idéia era de fazer alguma coisa ao jeito de tapera. Alguma coisa que servisse para abrigar o abandono, como as taperas abrigam. Porque o abandono pode não ser apenas de um homem debaixo da ponte, mas pode ser também de um gato no beco ou de uma criança presa num cubículo. O abandono pode ser também de uma expressão que tenha entrado pro arcaíco ou mesmo de uma palavra. Uma palavra que esteja sem ninguém dentro. (O olho do monge estava perto de ser um canto.)

Continuou: a palavra amor está quase vazia. Não tem gente dentro dela. Queria construir uma ruína para a palavra amor. Talvez ela renascesse das ruínas, como um lírio pode nascer de um montouro*.

E o monge se calou descabelado.